domingo, 8 de março de 2009



" Marcas "


" Voltei ao passado. Simples cartas fizeram-me refletir o que fui. Cartas amigas e de amor. Foram pessoas. Pessoas perdidas, que passaram. Hoje fazem parte de um pretérito sombrio, escondido entre lágrimas e sorrisos. Pessoas lindas; boas; pessoas. Não as reconheci, e hoje sinto falta delas. Mas levo a vida, e o que ficou servirá de base prá um futuro incerto. Hoje eu li cartas. Foram linhas transcritas com amor, paixão, amizade; mas ignorei-as. No silêncio da alma, ouço suas vozes presentes, relembrando momentos esquecidos, sorrisos apagados. Algo fez-se mais forte do que eu; tudo que fiz, tudo que deixei. São apenas memórias de um baú corroído pelo tempo, que não revelará sequer suas origens. São pegadas na areia ardente, apagadas pelo vento, sufocadas pelo pranto no rosto de cada um que passou. Para mim, serviram como ponte para o nada. Quanta coisa poderia ter aprendido com elas; quantos sentimentos bonitos poderia descobrir; quantos segredos poderia revelar; quantos amores poderia ter vivido; quanto poderia ter-me descoberto. Mas não as reconheci, e hoje sinto falta delas. Porque passam em nossa vida, como se fossem apenas parte dela? Amores perdidos, amizades esquecidas. Quantas mais passarão? Para onde irão? E eu? Sou também passagem em suas vidas; memória apagada, esquecida. E assim vou: vivendo o presente; enterrando o passado; negando o futuro. Mas um dia, quando a saudade se fizer mais forte, e a iminência da morte chegar, no derradeiro suspiro, a tela da minha vida será tomada por imagens de um passado oculto, vivido, mas desgastado. E aí, no momento final de uma vida vazia, sentirei que pessoas fizeram minha vida; que não foram apenas passagens, mas que deixaram marcas. “

Floripa, 07.12.84.

Gero...

“ Para aqueles que,
direta ou
indiretamente,
fizeram de
uma vida sem valor,
de uma
vida vazia,
algo que passou
pela Terra
e também deixou
sua marca. “

Gero.

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