quinta-feira, 5 de maio de 2011


"
Sol... e Chuva... "






Gosto desses dias molhados, de chuva miúda, de chuva fina
chuva boa,
de névoa, de garoa,
em que a gente não sente a obrigação de ser feliz,
e fica em si mesmo à-toa...

Basta a gente ficar onde está, nada mais, é tudo que se quer,
vendo a chuva cair, a chuva caindo,
ficar sentado, acomodado, num lugar qualquer
ouvindo o rumor da chuva, ouvindo.
ouvindo.

Dias que não pedem nada, que não exigem nada, que não incomodam,
em que a gente fica em casa, sem necessidade
de companhia, de ter alguém,
basta essa sensação que agora é minha...
Oh, a paz, essa felicidade impessoal, perfeita
que consegue ser feliz sozinha...

( Como doem certos dias de sol, de tanta alegria!)
Dias exigentes que gritam por felicidade, que reclamam vida e emoção
e que encontram às vezes a gente tão só
no meio de tanta gente,
tão só e desprevenido
sem saber que fazer - meu Deus! - do coração!

Dias de sol que derrubam a gente,
que maltratam a gente, passam por cima,
da gente
sem piedade,
tontos, deslumbrados,
e se vão a cantar uma felicidade
por todos os lados,
uma felicidade de bola de cristal, inexistente,
sem ver que ficamos no chão, como indigentes
abandonados...

Ah! gosto desses dias assim, de olhos embaciados, cinzentos,
de chuvinha mansa, de chuvinha boa,
que não perturbam o coração
que descansam a vista;
que, no máximo, esperam que a gente se sinta bem,
e nos deixam em paz, sem nada, nem ninguém,
- só isto!

Nesses dias, humilde e só, um pouco egoísta
talvez,
- existo...


( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. IV - 1a edição 1965 )



quarta-feira, 4 de maio de 2011



" Estou aqui "





" Então eu estou aqui...

E você também
Me permita ser o seu espelho

E dizer por mim...
O teu encanto...
Tua estranheza e teu espanto
Como quem sabe no fundo...
Que não há distância neste mundo
Pois somos uma só alma
Me permita ser a voz que te canta e te encanta de si
Que te faz sentir-se e parar
Como quem volta pra casa e resolve se amar
Somos livres e não possuímos as pessoas
Temos apenas o amor por elas...
E nada mais
E é preciso ter coragem para ser o que somos
sustentar
uma chama no corpo sem deixar a luz se apagar
É preciso recomeçar no caminho que vai para dentro
vencendo o medo imaginado...
Assegurar-se no inesperado
Confiando no invisível ...
Desprezando o perecível...
Na busca de si mesmo
Ser o capitão da nau...
No mais terrível vendaval
Na conquista de um novo mundo...
Mergulhar bem fundo para encontrar nosso ser real
E rir pois tudo é brincadeira
Que cada drama é só nosso modo de ver
A vida só está nos mostrando...
Aquilo que estamos criando
Com nosso poder de crer. "

(Luiz Antonio A. Gasparetto)